Cinema

“O Vigilante Noturno: Demônios Herdados” – Uma Surpresa Inesperadamente Boa

A tão esperada continuação de O Vigilante Noturno, sucesso do cinema europeu dos anos 1990, conseguiu superar as expectativas ao entregar tudo o que muitas “sequências legado”, como a franquia Pânico, não conseguiram alcançar. Dirigida novamente por Ole Bornedal, que também foi responsável pelo remake estrelado por Ewan McGregor, esta nova produção mantém a essência do original, mas a reinventa de forma marcante. Mais de vinte anos depois, O Vigilante Noturno: Demônios Herdados dá continuidade à história com profundidade, explorando traumas, conflitos familiares e questões psicológicas, características marcantes da narrativa nórdica.

No centro da trama está Emma (Fanny Leander Bornedal), filha dos sobreviventes do assassino retratado no primeiro filme. Ainda assombrada pelo trauma de seu pai, interpretado novamente por Nikolaj Coster-Waldau (famoso por seu papel em Game of Thrones), e pela misteriosa ausência de sua mãe, Emma toma uma decisão ousada: assumir o mesmo trabalho que trouxe terror à vida de seu pai – o de vigilante noturna em um necrotério. Porém, como era de se esperar, sua chegada ao local coincide com o surgimento de um novo assassino, que transforma os corredores da instalação em palco para uma nova sequência de horror.

Diferente do primeiro filme, Bornedal opta por um enfoque mais profundo no desenvolvimento dos personagens, enriquecendo o legado da franquia. Os assassinos em Demônios Herdados criam uma atmosfera ritualística em seus crimes, transformando os eventos em uma espécie de homenagem aos conflitos geracionais. Essa abordagem lembra as “sequências legado” modernas, como as recentes produções de Pânico, onde as narrativas paralelas – uma juvenil e outra adulta – se complementam. Contudo, neste filme, essa dinâmica é executada de forma excepcional, com um equilíbrio perfeito entre drama e suspense.

A produção também se destaca pela maneira como explora o estado mental dos protagonistas. A ligação entre vítima e algoz – ambos com profundos distúrbios psicológicos – é construída de maneira inquietante, demonstrando como os traumas podem se repetir e perpetuar em novas gerações. O filme não apenas mostra os desafios de lidar com o sofrimento, mas também expõe o absurdo das estratégias que os personagens usam para enfrentar seus medos e dores.

Na segunda metade, a narrativa se transforma em um verdadeiro desfile de suspeitos, remetendo diretamente ao estilo da franquia Pânico. Essa reviravolta mantém o público intrigado e oferece um exercício de suspense digno do gênero. Ao final, O Vigilante Noturno: Demônios Herdados se prova uma obra essencial, justificando tanto sua existência quanto o tempo investido em assisti-la, reafirmando o talento de Bornedal em transformar o familiar em algo inovador.